O que faço para gostar de português?

Português, não quero estudar!

Certamente você já ouviu a expressão "O que faço para gostar de português." Antes de continuar, deixe eu fazer uma pergunta: "é normal rejeitar a mãe? Se sua resposta for "não", então, você está expressando um sentimento de amor ao português, sua língua materna. 

Quer saber o porquê? Então, continue a leitura.

A princípio, você pode até perguntar: "o que a minha mãe tem a ver com a língua portuguesa? É possível que nem ela goste de estudar. Afinal de contas, estudar o português é um saco!" - Ok. É possível. Mas, já parou para refletir o que sua mãe e a língua portuguesa têm em comum?

Pensou? Conseguiu entender o que as torna tão parecidas? Não? Sem problemas. Vamos conversar? Você conseguiria rejeitar algo ou alguém, o qual não teve direito de escolha? Por isso, vou continuar a perguntar: você teve direito de escolher a mãe que tem? A resposta é NÃO.

Diante do fato, aprendemos a conhecer nossa mãe à medida que vamos nos desenvolvendo e interagindo com os estímulos que dela recebemos. Com o tempo, aprendemos a conhecer o espaço onde vivemos a partir do amor e acompanhamento que ela nos oferece. 

Enquanto crescemos, a vontade de agir por conta própria vai tomando conta de nós e nossa mãe começa a impor as regras de sobrevivência, mesmo que seja preciso usar os mais diferentes instrumentos de disciplina, os quais e nem sempre são tão agradáveis. Eu que os diga!

É possível que alguns instrumentos usados por ela para disciplinar nem sempre tornaram nossos olhares tão agradáveis, pois, houve momentos que a consideramos chata, exigente, de difícil compreensão e intragável. Apesar de tudo, não tivemos como expulsá-las de nossa vida.

Obs: escolhi a figura materna apenas como referencial maior e mais representativo que ainda configura a concepção e criação dos filhos. Contudo, qualquer figura com este mesmo papel poderia ser usado, pois, sempre dependemos do outro para compreender o mundo.

Apesar de tudo o que dela recebemos, em geral, optamos por odiá-la ou amá-la? Afinal de contas, foi ela quem nos gerou e disso não é possível abrir mão. A figura corretiva sempre existirá em nós, pois, a vida é chia de regras de conduta.

Ainda nesse contexto, faço uma analogia em relação à língua portuguesa. Sim. Ela é nossa língua-mãe. Não tivemos direito de escolha e tal qual a figura que nos ensinou a respeito da vida, tem suas regras e está presente em todos os contextos que nos constroem.

E, em qual contexto lhe apresentaram sua língua-mãe?

Hum. Acredito que esta pergunta possa retratar o motivo pelo qual você não tenha tanta simpatia e até mesmo ojeriza pela língua portuguesa, não é mesmo? Enquanto professor, ao longo dos anos cansei de ouvir a mesma afirmação: "não gosto de português."

Ao ser perguntado o porquê de tamanho ódio, a resposta maior vem logo à tona: "não consigo decorar tantas regras". Não contesto a existência de muitas regras, no entanto, sempre pergunto: "é possível viver sem regras?" - Estabelece-se silêncio na sala de aula.

Por natureza, a docência nos ensina a ser provocativos no sentido de querer sondar os estudantes em relação à disciplina e/ ou conhecimentos prévios que, ainda para muitos, é algo que nunca conseguiram abraçar. Sim, admito haver um fundo de verdade nisso.

Com base nas vozes de muitos estudantes, adotei uma abordagem bem proximal com o intuito de sondar o que esperam da minha disciplina e, a partir das respostas já esperadas, aplico uma metodologia contextualizada e uma didática de maior alcance possível.

Assim, a partir da analogia entre nossa mãe e a língua portuguesa (ambas cheias de regras e exceções), inicio minhas interações para desmistificar um engano construído em bases sem fundamentos, o qual, infelizmente, ainda tem atormentado uma range de estudantes Brasil afora. Estamos mudando isso.

Achou que encerramos a conversar por aqui? Está enganado. Ainda há o que comentar. Afinal de contas, amo dialogar e despertar a curiosidade a respeito da nossa língua-mãe. Por isso, quando pensar na língua portuguesa, não mais repita: "eu não gosto de português."

Ela nos acompanhará até o último suspiro nesta vida. É coisa de mãe mesmo!